sábado, 20 de agosto de 2016

Procurando Dory e a falta de memória


Não é preciso ser muito gênio para perceber que o filme procurando Dory foi muito mais do que um desenho infantil. A animação tratou com sutileza e maestria sobre alguns transtornos cognitivos.

No primeiro filme muitos diziam que a Dory possuía transtorno do Déficit de Atenção, mas mesmo que alguns sintomas apareçam diversas vezes no filme, tudo o que sabemos é que ela sofre de perda de memória.

Assistindo ao filme, me vi muitas vezes no lugar da Dory e vi não apenas os meus pais, mais outras pessoas e até eu mesmo (como pai) no lugar do Marlin, o pai do Nemo. A Dory não compreende a sua limitação e por isso não se incomoda com as repreensões. O Marlin não compreende o jeito da peixinha desmemoriada e, com o passar do tempo, acaba se irritando com os repetitivos erros dela. Na vida as coisas acontecem da mesma maneira. A diferença é que muitos não conseguem entender que não é proposital e que culpar não vai mudar a situação e evitar que isso ocorra novamente.

O Marlin compreendeu e até mesmo se sentiu culpado por isso.

E você? Quantas vezes estourou com alguém e depois ficou com vergonha por precisar se desculpar?

No vídeo eu falo um pouco mais sobre o que senti assistindo ao filme. Se você ainda não o viu, não perca tempo, pois vale muito a pena.



segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Frustrações



"Eu estou estudando e trabalhando para montar o meu futuro e você vai destruir tudo o que eu conquistei"

"O Diogo se formou depois de você e já está construindo o império dele"


Estas são algumas entre as diversas frases negativas que ouvi há algum tempo, mas ainda ecoam na minha cabeça como se eu as tivesse ouvido hoje.

Ninguém gosta de se frustrar, principalmente nós TDAH, que somos fadados a passar por frustrações. Não ir tão bem em uma prova, bombar em alguma disciplina, desistir da faculdade, desmotivação com o emprego, ser demitido, terminar o relacionamento, tudo isso ocorre com frequência na vida do TDAH e a falta de compreensão ajuda a gerar feridas internas.

Eu poderia falar dos TDAH em geral, mas hoje vou falar um pouco sobre mim.

Em 2004 iniciei a licenciatura em Educação Física, por diversas vezes tranquei a minha matrícula, algumas disciplinas cheguei a cursar até três vezes e até hoje não conclui o curso. Embora eu tenha feito várias coisas nesse espaço de tempo  trabalhei em vários lugares, viajei, trabalhei viajando... — muitas vezes me considero dez anos atrasado. Não por me sentir assim, mas por ainda estar na mesma situação acadêmica em que me encontrava há dez anos.

O Diogo, o cara que se formou e está construindo o império dele, continua trabalhando no mesmo lugar, com o mesmo patrão (ganhando mais, é claro), ainda vive manhã, tarde e noite reclamando que não ganha o suficiente e nesses 10 anos viajou nas férias apenas três vezes. Não quero ter que passar a vida longe da minha família para que o meu império cresça.

Demorei muito tempo para entender que eu precisava de ajuda e buscar por ela. Mas, enfim, o fiz. Estou engatinhando, redefinindo o meu futuro, correndo atrás das minhas metas e, finalmente, começando a compreender que as pessoas que diziam que eu não iria ser ninguém na vida não estavam falando por me amar. Quem me ama são as pessoas que estão ao meu lado, que me ajudaram quando pedi e que, mesmo que não tenham dito, estão ao meu lado, me apoiando e me ajudando a chegar lá.

Se aquelas frases ainda doem? Sim doem até hoje. Mas já não sangram mais. Pouco a pouco elas vão cicatrizando e um dia elas vão se curar e serão apenas marcas de que um dia eu passei por aquilo e superei. Como o ponto no meu nariz de quando caí em cima da mamadeira de vidro aos três anos. Sei que aconteceu porque vejo a cicatriz quando olho no espelho, mas nem lembro deste dia.

Amigo TDAH, se você se culpa pela tua situação financeira, pelo namoro desfeito, por ter sido demitido, saiba que há vários empregos que vão te satisfazer, se tiver força de vontade a tua situação financeira vai começar a se acertar pouco a pouco até você conseguir sair do vermelho, basta pedir ajuda a quem entende e seguir atentamente tudo o que for proposto. E se o seu namoro acabou porque seu parceiro(a) não aguentava mais o  teu jeito, é porque ele não estava preparado para lidar com quem você é. Ou ele muda a maneira de pensar, ou você começa a gostar de alguém que está disposto a gostar de você por inteiro. Aceite o quanto antes que se os dois não estiverem dispostos a enfrentar juntos e superar o TDAH o relacionamento sempre estará em crise.

Não se culpe! As frustrações não deixaram de acontecer, mas você não pode deixar que isso te domine e te coloque pra baixo. Você é forte e vai superar, lembre-se disso!